A tarde começou com o canadense Robert Lloyd, CEO Global da Cisco System, e o assunto foi tecnologia. Ele começou levantando que até 2020, existem U$14 tri a serem aproveitados no aumento de eficiência em gestão de processos de negócios.
Neste cenário, ele colocou a “internet of things” (internet das “coisas”, querendo dizer objetos conectados à rede. Hoje temos cerca de 10 bilhões de devices (itens), sendo que 7 bilhões são celulares, e estima que até 2020 teremos 500 bilhões de devices conectados.Ele disse que neste cenário, a Cisco fica feliz pois isso é difícil de fazer, mas que os gestores é que têm de ficar satisfeitos pela potencial melhoria no bottom-line dos negócios.
Exemplos de devices: comida (para não vencer), água (em recipientes, claro), automóveis (todos os carros identificados, sem mais acidentes, mas sem trânsito ele não garante, hehe), saúde (conectar dados sobre diagnósticos).
Para isso acontecer, ele disse que precisamos quebrar alguns paradigmas: sistemas isolados (medidores de luz, planilhas, cérebros), padrões abertos (Open Standards e APIs, para que sistemas possam conversar entre eles) e redes interconectadas (o banco de dados de uma empresa conversa com a outra, com o governo, os clientes, etc…).
Comentou também sobre as apostas da Cisco em cidades conectadas, envolvendo a gestão pública (trânsito, lixo, iluminação pública, etc…) e citou a cidade do Rio de Janeiro como foco das primeiras iniciativas deles, várias delas já estando implementadas até as Olimpíadas de 2016.
Lembrei-me da história que meu professor Dario Lima contou à minha turma de faculdade, de que em uma visita à sede da Microsoft em Washington, ainda em 2004, a empresa defendeu este conceito sob a alcunha de “conectividade” (termo este que Lloyd usou na palestra). 9 anos depois, e ainda estamos engatinhando.
Depois dele, tivemos nova participação do Clóvis de Barros Filho, que contou mais piadas e divertiu a galera. Entendi que a ideia é dar uma interrupção nas ideias pesadas, mas acho que, pelo preço que cobram, tinha que ter mais conteúdo pesado, que incitasse o pensamento. Cansou? Vai para a área aberta ver as promotoras de estande.
Continuando a tarde, outro gigante da estratégia, Gary Hamel, assumiu o palco para falar sobre “How to Hack Management”. A palestra veio bastante na contra-mão do que Porter falou, e também contra o que a CEO da IBM disse ontem, de que o CEO é o capitão de uma embarcação.
Neste ponto, o argumento é que o CEO, mesmo que bem intencionado, exerce uma espécie de “tirania soft“, onde aprova tudo aquilo que incrementa o status quo, mas tem uma defesa natural contra iniciativas inovadoras.
Sobre sua visão de estratégia, o discurso foi muito alinhado com o que o Govindaranjan falou mais cedo, sobre a inovação ter de ser a locomotiva de qualquer estratégia, num mundo em constante mudança. O argumento de Govindaranjan foi um pouco mais conciso, pois este soube reconhecer a importância do dia a dia, o presente.
Um dos argumentos fortes dele foi colocar que há 30% de chance de que uma empresa nos top 20% de um mercado, não estará mais neste ranking em 5 anos. Pisou também nos calos da Microsoft (e de Steve Ballmer), dizendo que as ações da Microsoft não valorizaram (nem desvalorizaram) nada há 10 anos, pois ela entrou atrasada em TODAS as tendências de mercado, exatamente por esta “tirania”.
Depois ele falou de algumas práticas que têm funcionado nas pequenas empresas, e que as grandes deveriam aprender dali. Falou que não existe (com uma exceção) nenhuma empresa que é globalmente alinhada, e totalmente distribuída. A exceção seria uma das maiores processadoras de tomate do mundo, chamada Morning Star.
A provocação e o exemplo foram bonitinhos, mas me pareceram retóricos demais, o que me fez lembrar de Jim Collins e sua metodologia quantitativa para tentar entender o que funciona e o que não funciona, e, em sua pesquisa (pelo menos até onde conheço), estrutura organizacional nunca foi diferencial em gestão, e a negócios de sucesso possuem alguns pilares sólidos, que vêm sobrevivendo ao teste do tempo. Claro que, num mundo que cresce exponencialmente e muda de maneira “insana”, muita coisa vêm mudando, e espero ver estes impactos de camarote!
Até pelo título da palestra dele, associado ao conceito de Hacking (to hack: alterar algo, mudar a essência do funcionamento), de que ele leu “A Catedral e o Bazar” do Eric Raymond e está utilizando como seu manifesto. Não me entenda mal, adoro o artigo e o conceito, mas não acho que é a resposta nem para 10% dos problemas das organizações, mas ele poderia dizer que estou dizendo isso por me apoiar numa lei antiga, de um tal de Pareto, que deve ser meio ultrapassada para ele…
Para encerrar o dia tivemos Michael Beer, professor emérito da Escola de Negócios de Harvard (Harvard Business School), e Chairman da TruePoint, empresa de consultoria, que falou sobre alto comprometimento e alta performance.
Discutiu a questão da organização ser mais que sua estrutura e sua estratégia, e que, ainda mais no mercado em constante mudança, independente do ramo de atuação, são a atitude e os valores das pessoas da equipe que vão levar as organizações a algum lugar. Falou então da importância que existe em deixar claros os valores e princípios da organização, para atrair pessoas que se identifiquem e se motivem por estes.
O exemplo da vez foi a HP, e seu sistema de bonificação não-financeira, orientada a valores, e também de valores que vão além das demandas dos acionistas, como forma de inspirar os funcionários.
Ele não conseguiu caminhar por nem metade dos slides previstos no tempo permitido, mas deixou um comentário sobre um dos grande empecilhos na definição e execução das estratégias: “por tabu, as pessoas não conversam sobre as coisas mais importantes”, cenário este que vejo (e luto contra) no meu dia a dia.
O dia se encerrou com ótimos insights, espero poder processá-los nos próximos 10 anos!
Amanhã teremos Regis Mckenna e Phillip Kotler, então é Marketing Day! Sem falar no Vicente Falconi, que espero que traga boas ideias, como é de praxe!