Enquanto atividade econômica, a agricultura está associada a um amplo contexto, onde uma infinidade de variáveis condiciona tanto os resultados tecnológicos como a rentabilidade e lucratividade. Conforme considerações de Andrade (1996), alguns destes condicionantes são considerados de natureza técnica, e outros de natureza institucional e humana.
Dentre os aspectos físicos que podem impactar a produção agropecuária pode-se citar: a) oscilações meteorológicas: precipitações, ventos, geadas, alterações de temperatura, calor, luminosidade, etc.; b)características do solo – topografia, fertilidade, profundidade, permeabilidade e grau de erodibilidade, etc.; c) recursos hídricos: disponibilidade de água em quantidade necessária, qualidade aceitável, com a periodicidade pertinente. Tais características determinam a necessidade de drenagem ou irrigação para as culturas; d) disponibilidade de infra-estrutura: máquinas, equipamentos, ferramentas, edificações e construções rurais, animais utilizados no processo produtivo, etc.; e) localização – distância da propriedade agropecuária com relação ao mercado facilitando o acesso a compra de insumos ou a venda dos produtos finais.
Além desses fatores, as pragas e doenças no cultivo agrícola, bem como as doenças e as enfermidades nos animam, são condições biológicas fora do pleno controle humano, que influenciam o sucesso da agropecuária. Outros condicionantes biológicos podem ser representados pelas diferentes espécies ou qualidades de sementes e animais. Andrade (1993) menciona as condições institucionais e humanas que estão fora do controle ou do poder dos agentes produtivos. Tais características podem ser consideradas como exógenas ao processo produtivo, mas que impactam fundamentalmente o seu desenvolvimento.
O sistema de comercialização (transporte e armazenamento dos produtos), as normas e crenças do ambiente institucional, as oportunidades de emprego e a remuneração de atividades fora do meio rural bem como outras oportunidades de mercado (afetando a oferta e a demanda de produtos agropecuários) podem ser consideradas neste item.
Destaque deve ser dado ainda, ao importante papel das políticas públicas: oscilações nos preços mínimos, políticas de subsídios, acesso a crédito, concessão de incentivos regionais ou a determinadas culturas/atividades. Ao mesmo tempo, alterações macroeconômicas no próprio ou em outros países, podem afetar a atividade agropecuária, sem que haja qualquer possibilidade de interferência por parte do produtor rural.
As características endógenas à propriedade agropecuária são também listadas por Allwann (1993, p.154): trabalho familiar, habilidade administrativa, educação, conhecimento e determinação de objetivos. Além destas, outras características também podem ser citadas como intrínsecas à atividade agropecuária. Entre elas, pode-se mencionar o caráter estacional, que condiciona tanto os aspectos técnicos como econômicos.
Destaca a demanda de insumos produtivos e outros fatores concentrados em determinado período do ano, tais como a sazonalidade da demanda por crédito, problemas de comercialização (armazenagem, conservação, transporte e oscilações de preço), perecibilidade de alguns produtos (que deprime a renda do produtor, através da diminuição do seu poder de barganha frente aos compradores) e a irreversibilidade do processo produtivo.
Todos os mencionados fatores impactam não somente o tipo de cultura ou criação a ser desenvolvido pelo produtor, como também a produtividade por ele alcançada e a sua rentabilidade/lucratividade. Muito embora a listagem não seja exaustiva, todos os determinantes podem ser considerados, de certa forma, um reflexo estático do ambiente em que está inserido o produtor agropecuário. Torna-se importante considerar não somente os ambientes atuais, como também os potenciais distúrbios no “status quo” produtivo, motivados por eventos ou concorrência potencial. Neste sentido, é necessário considerar não somente a concorrência existente em determinado momento do tempo, como também a pressão feita por outros agentes econômicos, que acabam refletindo-se internamente à empresa.
As figuras abaixo apresentam os fatores de natureza técnica (figura 2) e os fatores de natureza institucional e humana (figura 3) listadas por Allwann (1993, p.151).
Assim, a interação e as conseqüências de cinco “forças” de concorrência descritas por Porter (1992, p.5) devem ser introduzidas na análise da produção agropecuária. São elas: (a) rivalidade entre os concorrentes já estabelecidos na própria indústria; (b) poder de negociação dos fornecedores de insumos; (c) poder de barganha dos compradores; (d) ameaça de entrada de novos produtores no setor; refere-se à existência de barreiras ou fatores impeditivos à entrada de novos concorrentes na mesma indústria, alterando a incerteza do ambiente em que as firmas estão inseridas; e (e) existência de produtos substitutos fabricados em outras indústrias.
Analisando especificamente o caso da agricultura, Meira (1996, p. 37), considera o ambiente agropecuário como “adverso ao produtor rural”. O autor considera a existência de uma “conspiração das cinco forças competitivas”: número elevado de produtores agropecuários convivendo ao lado de fornecedores de máquinas, equipamentos e insumos agrícolas com alto poder de negociação e compradores de produtos agropecuários (atacadistas, cadeias de supermercados, agroindústrias e comerciantes locais).
Além destas desvantagens, o produtor rural depara-se com a ameaça constante de entrada de novos produtores, dadas as baixas barreiras à entrada e os elevados custos de saída da atividade agropecuária, fator este que leva os produtores a permanecerem neste setor mesmo sem a obtenção de retornos satisfatórios. Destaca também a concorrência com produtos industriais sintéticos.
Objetivos dos Produtores Rurais
As primeiras tentativas de compreensão da função otimizada pelo empresário rural consideravam como seu objetivo a maximização do lucro, seguindo os preceitos da microeconomia neoclássica. Foram desconsiderados aspectos relacionados às características pessoais do produtor, como a situação familiar e o ciclo de vida pessoal e da exploração produtiva. Também não foram levadas em conta a capacidade e a disposição para a mudança, tendo em vista a adaptação da infra-estrutura aos novos processos produtivos, os custos pessoais em termos de aprendizagem e de saída das atividades.
Miranda (1998, p. 202), lembra que dentre os objetivos do produtor rural, deve-se considerar não somente o desenvolvimento econômico fundamentado no “crescimento agrícola – principal base produtiva do meio rural, mas sim num equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, o humano e o social”. Assim a administração rural não pode deixar de visar a melhoria do bem-estar e da renda líquida familiar, o aumento no valor do patrimônio e a manutenção de uma imagem satisfatória do produtor rural perante a sociedade.
Assim, Alberto (1991, p.20) conclui que “a falta de sintonia entre as visões dos extensionistas e dos produtores rurais pode ser compreendida como uma das explicações para o perfil conservador destes últimos ao preterirem muitas vezes a opinião dos técnicos”.
Referências Bibliográficas sobre Agronegócio
ALLWANN, J. Introduction to economics of agricultural development.New York: McGraw-Hill, 1993. cap.9, p.149-166: Comparative agricultural systems and the role of women.
ALBERTO, L.A. A necessidade de um enfoque de administração rural na pesquisa e extensão rural. In: Semana de Atualização do Administração Rural, Lages, 1991. Anais.Florianópolis: SAA/EPAGRI/CTA do Planalto Serrano Catarinense, 1992. p.7-21.
ANDRADE, J.G. Introdução à administração rural. Lavras: UFLA/ FAEPE, 1996.
BRUDDER, A. Qual a vocação produtiva da agricultura familiar? Globalização, produção familiar e trabalho na agricultura. In: TEDESCO, J. C. (Org.) Agricultura familiar: realidades e perspectivas. Passo Fundo: EDIUPF, 1999. cap. 6, p. 219-249.
CAZZIANNI, J.R.F. Assessoria a produtores rurais no Brasil. Piracicaba, 2001. 224 p. Tese (Doutorado) –Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo.
GUERRA, G. Manual de administração de empresas agropecuárias. San José: Instituto Interamericano de Cooperación para la Agricultura, 1992. 508 p.
MEIRA, J.L. Sucesso econômico e perfil estrategista empreendedor de produtores rurais: o caso Nilo Coelho. Lavras, 1996. 76 p. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior deAgricultura, Universidade Federal de Lavras.
MIRANDA, D. Associativismo rural, agroindústria e intervenção: estudo de caso de uma associação de produtores familiares. Lavras, 1998. 202 p. Dissertação (Mestrado) – EscolaSuperior de Agricultura, Universidade Federal de Lavras.
PASSOS, N. Práticas administrativas em uma associação de pequenos agricultores no Rio Grande do Sul. Lavras, 1993. 69 p. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior de Agricultura,Universidade Federal de Lavras.
SILVA NETTO, B.; LIMA,A.J.P. de; PASSOS, D. Teoria dos sistemas agrários: uma nova abordagem do desenvolvimento da agricultura. Extensão Rural, v. 4, n.4, p. 6-19, 1997.
VELA,H.A.G. Uma breve leitura das estruturas organizacionais dos agricultores familiares no planalto médio Rio-grandense. PerspectivaEconômica, v. 33, n. 104, p. 5-16, 1998.